quinta-feira, 22 de julho de 2010

A Música do Cérebro

Há cada vez mais um interesse maior na relação entre o cerebro e a música. A atractiva similaridade entre as ondas cerebrais e o ritmo da música tem motivado muitos ciêntistas para procurar uma conexão entre elas. Várias tentativas têm sido feitas para tentar converter ondas cerebrais em música.
Uma equipa de pesquisadores da Universidade de Ciência Eletrónica e Tecnologia da China criou um método para transformar a atividade elétrica do cérebro em... música.
A equipa usou "regras de sonificação" para transformar as ondas de eletricidade cerebral, medidas por eletroencefalograma (EEG), em notas musicais. A amplitude do sinal elétrico é transformada em notas musicais; a mudança de energia do EEG é transformada na intensidade da nota; e o período da onda é transformado na duração das notas.
O resultado, que o trio chama de "música sem escala", é diferente dependendo do estado mental da pessoa: "música" animada durante o sono REM e sons lentos e tranquilos durante o sono profundo.
Estas regras de sonificação vêm permitir a identificação, por meios auditivos, do estado cerebral de pacientes, oferecendo desta forma uma estratégia em tempo real para monotorizar a actividade cerebral e a potencialidade da terapia de feedback neurológico.

Evolução da Percepção Musical com a Idade:

1 ano – explora a sua voz, brinca com as alturas, dinâmicas, o âmbito e o timbre.
2 anos – desenvolvem cada vez mais a sua percepção melódica, iniciam a organização de padrões que podem ser reconhecidas como pequenas canções, conseguem controlar o contorno e o ritmo de uma frase musical mas não conseguem controlar a tonalidade.
3 anos – conseguem já cantar canções com alguma elaboração, utilizam palavras e contornos correctos, mas ainda não possuem a noção da tonalidade.
4 anos – conseguem manter estáveis as alturas e os intervalos durante uma ou duas frases mas depois, deslizam para outra tonalidade.
5 anos – conseguem estabilizar a tonalidade numa canção
6 anos – conseguem distinguir se certa sequência é tonal ou atonal
8 anos – já são capazes de verificar mudança de modo, surge a capacidade de distinguir as características dos intervalos.

Transferência Positiva do Treino Musical para Outras Áreas

Música e Linguagem:

A linguagem e a música possuem várias semelhanças, entre as quais se pode destacar a estrutura que lhes é inerente e que evolui no tempo. Avanços recentes nas neurociências demonstram que o treino musical parece influenciar a organização anatomo-funcional de regiões cerebrais que não estão exclusivamente dedicadas ao processamento musical, mas que estão também envolvidas no processamento da linguagem.

Música e Memória Verbal:

Os resultados de várias experiencias sugerem que a aprendizagem musical tem influência no desenvolvimento da memória verbal.

Música e Matemática:

Apesar de vários resultados contraditórios pode-se concluir que a aprendizagem musical leva ao desenvolvimento de competências matemáticas.

Música e o Q.I:

Os resultados de vários estudos revelaram que a aprendizagem musical e a duração dessa aprendizagem têm influência no funcionamento intelectual.

Vantagens da Prática Musical Para o Cérebro

Em relação às alterações no cérebro, vários neurocientistas e neurologistas já se debruçaram sobre este tema. Descobriram que a prática musical altera as complexas redes de neurónios do nosso cérebro. Uma das mais significativas transformações é a nível do cerebelo. Este, que controla milhares de fibras musculares no corpo, encontra-se maior nos músicos profissionais. Outra área que se apresenta maior nos músicos é o corpo caloso, uma tira de tecido que liga os dois hemisférios. Este É um órgão crítico para um pianista, pois precisa de sincronizar na perfeição os movimentos dos lados direito e esquerdo do corpo. Cada lado é gerido por metade do cérebro, como já referi anteriormente, e por isso, ambos os lados têm de trabalhar harmoniosamente. Um corpo caloso maior contém mais fibras nervosas, o que permite que mais sinais possam passar de um lado para o outro, o que por sua vez acelera a comunicação.
Após pouco tempo depois das crianças começarem a tocar já é notório que os seus cérebros começam a mudar, as áreas responsáveis pela audição e pela análise de música estão mais activas que nas crianças que não praticam actividade musical.
Através de vários estudos comprovou-se que, regra geral, as crianças estimuladas começam a aprender mais depressa, aprendem a falar mais fluentemente, têm melhores notas e um maior nível de sucesso. A estimulação precoce tem assim um efeito duradouro nas suas vidas, isto aplica-se especialmente à música. Através de Imagiologia por Ressonância Magnética (IRM) verificou-se que algumas regiões no cérebro dos músicos são maiores do que nos não-músicos: o corpo caloso, o planum temporale, o córtex motor primário, algumas regiões do cerebelo, a circunvolução de Heschl, córtex auditivo primário, a circunvolução frontal inferior, a parte lateral inferior do lobo temporal. Foi também possível verificar a correlação positiva entre a competência musical e o aumento do volume da massa cinzenta no cerebelo, das regiões auditivas primárias, das regiões motoras e de sensibilidade somática, assim como das regiões pré-motoras, temporal superior, parietal superior e na circunvolução frontal inferior. A correlação entre os resultados neurofisiológicos e os morfológicos foi significativa. Estas descobertas evidenciam a ligação existente entre as micro-estruturas do cérebro, a amplitude das respostas magnéticas/eléctricas, e demonstram que o treino musical potencia o funcionamento de diferentes regiões cerebrais.
Resultados de estudos utilizando a IRMf, TEP, MEG e os Potenciais Evocados (ERPs) demonstraram que ouvir música activa diferentes áreas cerebrais, incluindo as regiões límbica e para-límbica, as regiões auditivas primárias e secundárias, o córtex auditivo, a circunvolução supra marginal e o córtex frontal.

Predisposição Humana para a Música

Vários estudos comprovam que diferentes culturas partilham características musicais. Estas características constituem partes dos universais da música, as relações existentes entre graus das diferentes escalas, a sequência dos harmónicos, a tendência para se agrupar os sons de uma melodia em função da sua proximidade, entre outras. Por outro lado, esta partilha de características musicais pode ser reflexo de predisposições humanas para a música, e não apenas meras coincidências. Verifica-se então que as crianças poderão estar preparadas mais cedo para a aprendizagem musical do que se supõe para a aprendizagem musical. Existem inclusivamente autores que defendem a existência de determinadas características biológicas no ser humano que lhe permitem desenvolver as capacidades musicais e que estas por sua vez poderão ter influência no desenvolvimento de outras capacidades que lhes serão úteis no decorrer da vida.

Áreas do Cérebro utilizadas na Música:


Córtex Frontal Lateral Inferior: Estrutura harmónica, estrutura melódica, estrutura rítmica, estrutura tímbrica;
Circunvolução Temporal Superior: Estrutura harmónica (irregularidades);
Região Temporal Média e Superior: Estrutura harmónica (irregularidades), semântica musical;
Circunvolução Marginal Superior: Memória de trabalho;
Córtex Pré-Frontal: Memória de trabalho;

Córtex Orbito Frontal: Estrutura Harmónica, aspectos emocionais da música;
Área de Broca: Estrutura harmónica – análise auditiva de sequências harmónicas;
Córtex Pré-Motor: Estrutura harmónica – funções harmónicas regulares e irregulares;
Córtex Pré Motor Ventrículo Lateral Inferior: Análise e reconhecimento de informação auditiva sequencial;
Ínsula da Região Anterior: Aspectos emocionais da música;

Doutrina do Ethos

Neste pequeno capítulo vamos desenvolver alguns efeitos que a prática e a audição musical provocam no nosso corpo. Para isso temos de regressar alguns milénios atrás, até à antiga Grécia. Na antiga Grécia, a música era uma actividade ligada a todas as manifestações sociais, culturais e religiosas. Dentre todas as artes, era a mais relevante. Para os gregos, a música era tão importante e universal, como a sua própria língua. Como forma de expressão tinha o poder de influenciar e modificar a natureza moral do homem e do Estado. A música deveria exaltar as boas qualidades no cidadão e, ao mesmo tempo, promover o significado de ordem, dignidade, capacidade de decisões, além do equilíbrio, simplicidade e temperamento. “Na concepção de Platão, a música expressa as relações intrínsecas existentes entre as progressões musicais e os movimentos da alma.” As formas de expressão rítmicas, melódicas e poéticas eram determinadas por normas que pudessem conduzir o indivíduo à essência desses princípios. Esse princípio tem a sua origem na música das culturas orientais, mas é somente na Grécia que atinge seu desenvolvimento máximo, com a doutrina do Ethos. Na perspectiva musical, a doutrina do Ethos expressa a ordenação, a diferenciação e o equilíbrio dos componentes rítmicos, melódicos e poéticos. A sincronia de todos esses elementos constituía um factor determinante na influência da música sobre o carácter humano. “Ethos é uma palavra grega, que pode ser traduzida de maneiras diferentes, tais como, personalidade, carácter, estado de alma, disposição mental. Na arte, o Ethos corresponde a estados emocionais estáticos, entendido como o contrário do Pathos, o dinamismo emocional.” O sistema melódico utilizado era o chamado “modos Gregos”, que é utilizado ao longo de toda a música da Idade Média e do Renascimento. A cada modo grego estava associado um carácter, um Ethos: o modo dórico (modo de mi) era viril, grave, belo e educativo; o modo frígio (modo de ré) era agitado, entusiasta e báquico; o modo lídio (modo de dó) era dolente, fúnebre, decente e educativo (segundo Aristóteles); o modo mixolídio (modo de si) era patético.