quarta-feira, 21 de julho de 2010

Aprendizagem motora / Música

Para a música, tal como para todas as outras manifestações artísticas, a abordagem de diversos elementos em simultaneidade é necessária para que a expressividade dessa arte possa ser elevada ao máximo. É normal para um músico ter de associar elementos do teatro, e até imagens na sua performance, com o objectivo de aperfeiçoar as suas qualidades e projectar a sua arte. A execução de um instrumento musical, seja ele qual for, envolve diferentes abordagens técnicas, para se conseguir os resultados desejados.
Existe uma série de factores essenciais na aprendizagem motora: a postura corporal, a eficiência do método utilizado para a aprendizagem, o meio em que a tarefa deve ser realizada ou aprimorada e outros demais factores, tais como a intensidade do estudo, intervalos entre períodos de prática ao instrumento, entre outros. No caso da produção do som em especial, diferentes meios são usados, dependendo do instrumento.
Por exemplo, nos instrumentos de cordas, o executante usa um arco, de modo a ser friccionado contra a corda do instrumento, colocando-a em vibração. A qualidade do som resultante depende da relação entre a velocidade e a pressão do arco sobre a corda. Com os instrumentos de sopro, o som é produzido pela vibração de uma massa de ar originada no instrumento.
No caso dos instrumentistas de cordas, para se obter o controlo do movimento do arco, a habilidade a ser desenvolvida está relacionada com a capacidade do instrumentista colocar em acção uma série de elementos que combinam os movimentos do braço (músculos posteriores), do antebraço, a rotação do cotovelo, movimentos do pulso, além da correcta utilização dos dedos polegar, indicador e mínimo.
Já para os instrumentistas de sopro, entre as qualidades e habilidades técnicas necessárias para uma correcta produção do som, a mais importante é o controlo da respiração. Este controlo exerce uma importante acção no padrão de respiração desenvolvido pelo instrumentista e o correcto desenvolvimento deste permitirá um desempenho técnico-musical mais aprimorado, com menor esforço e com maior naturalidade na emissão da coluna de ar. É este um dos elementos essenciais para a prática instrumental os instrumentistas de sopro: o controlo voluntário sobre a respiração para a emissão da coluna de ar na produção do som.
O conjunto de músculos essenciais a esta actividade é constituído por: músculos abdominais, músculos intercostais, abdómen e diafragma.
Para os instrumentistas de sopro são também essenciais os músculos da embocadura. A Embocadura é a forma que os músculos da boca, lábios, queixo e rosto se posicionam quando colocamos o bocal nos lábios para produzir o som no instrumento. Esta é composta por doze músculos responsáveis pela preparação da máscara. A embocadura, quando em harmonia com uma correcta coluna de ar, deve ser capaz de produzir uma boa sonoridade, uma grande extensão, variação de dinâmicas, flexibilidade e articulações diversas. Para além disto, a embocadura deve suportar diariamente uma carga de estudos, ensaios e actuações, que podem durar muitas horas. Os cantos da boca são os pontos mais importantes de uma embocadura eficiente.
Tocar piano subentende a realização de uma série de movimentos complexos coordenados, em concordância com a notação musical. O desenvolvimento das habilidades motoras de um pianista consiste principalmente em melhorar a rapidez e a precisão com que o sistema nervoso central coordena a actividade. A coordenação motora está ligada a uma séria de factores determinantes na realização do movimento, “inúmeros factores e processos isolados [...] actuam conjuntamente num movimento simples”, (Meinel, 1987).
Um pianista, para além da complexidade rítmica, tem que ler acordes com muitas notas em simultâneo, tendo que coordenar cada dedo para as respectivas notas. Este processo é muito difícil, porque a quantidade de matéria cerebral que representa cada parte do corpo é proporcional à quantidade de controlo que esse motor primário tem sobre essa parte do corpo. Por exemplo, os movimentos complexos das mãos e dedos exigem uma grande parcela de matéria cerebral, contrariamente aos grandes grupos musculares das pernas ou tronco.
A prática instrumental de instrumentos de percussão requer por parte do executante alguma exigência a nível físico, coordenação motora, leitura rítmica, percepção de tempo e envolve várias técnicas distintas de execução. A aprendizagem de um instrumento de percussão deve ser feita, numa primeira fase, de modo a obter destreza e coordenação motora, fundamentando-se na aprendizagem e execução de padrões rítmicos simples executados em bateria; e numa fase posterior, de modo a fomentar e desenvolver a destreza e coordenação motora, baseando-se na execução de padrões rítmicos mais complexos em vários instrumentos de percussão. Um percussionista, para ser bastante completo em termos artísticos, necessita de desenvolver um conjunto de técnicas muito variadas, que passam pela independência auditiva e motora, a técnicas de afinação e percussão de cada instrumento, sendo ainda importante uma noção rítmica muito apurada.

Problemas na coordenação motora podem prejudicar a nível técnico e mesmo acabar com carreiras musicais. O instrumentista pode sofrer de tremores, fraquezas ou dores, mas a mais preocupante é a distonia focal. Os instrumentistas sofrem de contracções musculares involuntárias, deixando de ter controlo nos músculos da mão ou embocadura. Torna-se praticamente impossível a prática instrumental. Distinguem-se “a distonia geral, em que os sintomas podem manifestar-se em todas as extremidades, mais propriamente no tronco, ou seja, em mais de cinquenta por cento do corpo e a distonia focal, que se concentra numa parte específica do corpo, desde dos braços, pernas, tronco, pescoço, face, pálpebras ou mesmo das cordas vocais.”

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